terça-feira, 12 de junho de 2012

A força do boato

Mário Roberto  pensou em suicídio após o boato
José Eymard - Pouso Alegre

Desempregado após 30 anos trabalhando como agente funerário, Mário Roberto de Oliveira nunca imaginou que um boato maldoso poderia separá-lo da paixão de cuidar de defuntos. Ele foi testemunha do ditado ”quem conta um conto, aumenta um ponto”.

Em novembro de 2011, surgiu em Pouso Alegre, o comentário que um agente funerário foi flagrado fazendo sexo com um cadáver de uma mulher. O irmão da falecida teria visto o ato de necrofilia e com tesouradas matado o funcionário da funerária. 

Esta história é um ‘causo popular’, mas na cidade do Sul de Minas, ela ganhou um personagem real. O boato cresceu de tal forma que afirmaram que o agente funerário assassinado era Mário Roberto.

O buchicho logo chegou aos ouvidos de Mário, que nem em Pouso Alegre trabalhava, e sim, em uma funerária em  Santa Rita do Sapucaí. Ao saber da notícia falsa ele quase teve um desmaio: “minha pressão subiu, minha esposa e os colegas daqui tiveram que me segurar. Não acreditei que tinham inventado uma história sobre mim tão mentirosa”.

“Estavam esperando meu corpo chegar a Congonhal. Ligaram da funerária de lá perguntando se o corpo já estava liberado. Ao ouvirem minha voz, aí que eles perceberam que era tudo mentira”.

Passados dois meses da criação do boato, Mário Roberto foi demitido da funerária que trabalhava. “Eles disseram que era corte de funcionários, mas na realidade estavam achando que eu manchei o nome da empresa”

O agente morava nos fundos da funerária. Teve que se mudar. Vendeu os bens para pagar o aluguel e as contas, mas o dinheiro acabou e não conseguiu arrumar outro emprego. Em março mudou para Pouso Alegre, foi para a casa da sogra, no bairro São Geraldo. Com esposa e três filhos para cuidar, Mário não teve outra opção a não ser catar papelão e garrafas PET.

"Ando na rua e o povo me olha com preconceito. Julgando. Já chamei a polícia, mas não adiantou em nada. Já até pensei em fazer besteira".

O  ex- agente funerário também é músico. Toca teclado, mas vendeu o instrumento que tinha para pagar dívidas. Comerciantes sensibilizados com a sua história,  compraram um teclado novo. Agora ele poderá ganhar dinheiro tocando em bailes, bares e festas durante o final de semana. Dá para ganhar “uns R$150 reais no sábado e domingo, vai ajudar muito”

Mário Roberto não esconde a vontade de querer justiça, mas descobrir quem colocou o nome dele no boato é quase impossível. A esposa Eliane já conseguiu emprego em um supermercado. "Minha mulher é trabalhadora e me ajudou muito. Eu fico numa angústia vendo ela sair para trabalhar e eu ficando dentro de casa, mas sei que a oportunidade vai aparecer".

Nenhum comentário:

Postar um comentário