Mário Roberto pensou em suicídio após o boato |
José Eymard - Pouso Alegre
Desempregado após 30 anos trabalhando como agente funerário,
Mário Roberto de Oliveira nunca imaginou que um boato maldoso poderia separá-lo
da paixão de cuidar de defuntos. Ele foi testemunha do ditado ”quem conta um conto,
aumenta um ponto”.
Em novembro de 2011, surgiu em Pouso Alegre , o
comentário que um agente funerário foi flagrado fazendo sexo com um cadáver de
uma mulher. O irmão da falecida teria visto o ato de necrofilia e com
tesouradas matado o funcionário da funerária.
Esta história é um ‘causo popular’,
mas na cidade do Sul de Minas, ela ganhou um personagem real. O boato cresceu
de tal forma que afirmaram que o agente funerário assassinado era Mário
Roberto.
O buchicho logo chegou aos ouvidos de Mário, que nem em Pouso Alegre
trabalhava, e sim, em uma funerária em Santa Rita do Sapucaí. Ao
saber da notícia falsa ele quase teve um desmaio: “minha pressão subiu, minha
esposa e os colegas daqui tiveram que me segurar. Não acreditei que tinham
inventado uma história sobre mim tão mentirosa”.
“Estavam esperando meu corpo chegar a Congonhal. Ligaram da
funerária de lá perguntando se o corpo já estava liberado. Ao ouvirem minha
voz, aí que eles perceberam que era tudo mentira”.
Passados dois meses da criação do boato, Mário Roberto foi
demitido da funerária que trabalhava. “Eles disseram que era corte de
funcionários, mas na realidade estavam achando que eu manchei o nome da empresa”
O agente morava nos fundos da funerária. Teve que se mudar.
Vendeu os bens para pagar o aluguel e as contas, mas o dinheiro acabou e não
conseguiu arrumar outro emprego. Em março mudou para Pouso Alegre, foi para a casa da
sogra, no bairro São Geraldo. Com esposa e três filhos para cuidar, Mário não
teve outra opção a não ser catar papelão e garrafas PET.
"Ando na rua e o povo me olha com preconceito. Julgando. Já
chamei a polícia, mas não adiantou em nada. Já até pensei em fazer besteira".
O ex- agente funerário
também é músico. Toca teclado, mas vendeu o instrumento que tinha para pagar
dívidas. Comerciantes sensibilizados com a sua história, compraram um
teclado novo. Agora ele poderá ganhar dinheiro tocando em bailes, bares e
festas durante o final de semana. Dá para ganhar “uns R$150 reais no sábado e domingo,
vai ajudar muito”
Mário Roberto não esconde a vontade de querer justiça, mas
descobrir quem colocou o nome dele no boato é quase impossível. A esposa Eliane
já conseguiu emprego em um supermercado. "Minha mulher é trabalhadora e me
ajudou muito. Eu fico numa angústia vendo ela sair para trabalhar e eu ficando
dentro de casa, mas sei que a oportunidade vai aparecer".