Benedito Vazes de Lima Sobrinho, paraplégico há 14 anos |
Gorete Marques - Cambuí
Seis,
sete, oito segundos
Com o cronômetro na
mão o locutor anuncia a vitória de Caíque Pacheco. O jovem de 17 anos venceu o
temido Boi Tigrero, campeão no rodeio em 2010. O prêmio? Difícil calcular. Qual
é o preço de um sorriso? O mesmo da solidariedade, certamente. No desafio do
Bem o vencedor não importa, o objetivo é conseguir arrecadar dinheiro para a
compra de uma cadeira de rodas que será entregue a Benedito Vazes de Lima
Sobrinho.
A mobilização que
nasceu entre uma conversa de um dos vizinhos do senhor Benedito com o Padre
Jésus Andrade, ganhou dimensão com o apoio da Organização da Festa de Peão de
Cambuí – Circuito Barretos. O preço da
cadeira gira em torno de R$8 mil reais. A paróquia havia arrecadado R$ 6 mil e
estava prestes a encerrar a campanha quando surgiu a idéia de fazer um desafio.
Cada aposta valendo
R$2 reais foi depositada na urna referente ao peão ou ao animal. Após a disputa
um número foi sorteado entre os palpites vencedores. Parte do dinheiro foi entregue ao ganhador e
a outra metade deve ser destinada à campanha. A iniciativa traz de volta lembranças
que o tempo custa a apagar.
A
queda
Três de fevereiro de
1998. Para Benedito Vazes de Lima Sobrinho a data é quase impossível de
esquecer. Aos 59 anos um acidente de trabalho mudou sua vida. Ele limpava a calha
de uma fábrica, em São Paulo, onde trabalhava fazendo equipamentos para
escritório, como máquinas de escrever e clipes para papel. A tarefa simples era
executada nas horas vagas a mando do patrão.
Uma instante de
distração foi o que bastou. Benedito despencou de uma altura de seis metros. Daquele
dia, só se lembra da chegada do corpo de bombeiros. Saiu de maca para o
hospital. Ali ficaria internado por 19 dias aguardando uma operação. Após a cirurgia
veio à confirmação dos seus temores. A coluna foi afetada. Bene, como é chamado
pelos amigos, estava paraplégico.
O
medo
Ao relembrar os longos
dias que passou no hospital, as lágrimas contidas guardam no coração o medo da
perda, não dos movimentos, mas de um grande amor. Qual seria a reação da
namorada? Na época ela morava em Cambuí. No primeiro momento ficou chocada com a
notícia. Mas para a surpresa, e alegria de Bene, este seria o primeiro dos
grandes desafios enfrentados em uma relação que já dura 16 anos. “Ela não saiu
de perto de mim no hospital”.
O apoio foi
fundamental. Benedito encontrou forças. Aos poucos deixou de lado o sentimento
de revolta e frustração. Sentado em sua cadeira de rodas no canto direito da
Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Cambuí, chama atenção pela serenidade. Voz
suave. No semblante a tranqüilidade de quem aprendeu com a vida a valorizar as
coisas simples.
No ano passado recebeu
outra notícia trágica. O agravamento do diabetes provocou o surgimento de feridas
nas duas pernas. O procedimento, que limitaria ainda mais, a autonomia de Seu
Benedito foi feito no dia 9 de junho. “A perna esquerda ficou inteirinha preta
e o médico disse que ia ser preciso amputá-la”. Em março o mesmo problema
afetou a outra perna.Com dois
membros amputados, e dependente, de outras pessoas para empurrar a cadeira de
rodas, os passeios se tornaram raros.
Bene passa os dias deitado em uma cama. Quando
indagado sobre as atividades que sente mais falta. A resposta é simples. Nada,
apenas colocar um pé na frente do outro, “tenho saudade de caminhar”. O
sofrimento se tornou aprendizado. E das dores nasceram grandes alegrias. A
campanha que se encerra com a realização do desafio do bem vai possibilitar a
compra de uma cadeira de rodas.
Mais que isso, uma
nova lição: a descoberta do valor da amizade e de amigos que teimam em se
esconder. Meio sem jeito, ensaia um obrigado. Palavras simples que para ele tem
grande significado, “eu fico feliz porque tem gente que nem conhece que está
ajudando. A gente só tem a agradecer".
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