terça-feira, 12 de junho de 2012

Ação solidária

Benedito Vazes de Lima Sobrinho, paraplégico há 14 anos

Gorete Marques - Cambuí

Seis, sete, oito segundos

Com o cronômetro na mão o locutor anuncia a vitória de Caíque Pacheco. O jovem de 17 anos venceu o temido Boi Tigrero, campeão no rodeio em 2010. O prêmio? Difícil calcular. Qual é o preço de um sorriso? O mesmo da solidariedade, certamente. No desafio do Bem o vencedor não importa, o objetivo é conseguir arrecadar dinheiro para a compra de uma cadeira de rodas que será entregue a Benedito Vazes de Lima Sobrinho.

A mobilização que nasceu entre uma conversa de um dos vizinhos do senhor Benedito com o Padre Jésus Andrade, ganhou dimensão com o apoio da Organização da Festa de Peão de Cambuí – Circuito Barretos.  O preço da cadeira gira em torno de R$8 mil reais. A paróquia havia arrecadado R$ 6 mil e estava prestes a encerrar a campanha quando surgiu a idéia de fazer um desafio.

Cada aposta valendo R$2 reais foi depositada na urna referente ao peão ou ao animal. Após a disputa um número foi sorteado entre os palpites vencedores.  Parte do dinheiro foi entregue ao ganhador e a outra metade deve ser destinada à campanha. A iniciativa traz de volta lembranças que o tempo custa a apagar.

A queda

Três de fevereiro de 1998. Para Benedito Vazes de Lima Sobrinho a data é quase impossível de esquecer. Aos 59 anos um acidente de trabalho mudou sua vida. Ele limpava a calha de uma fábrica, em São Paulo, onde trabalhava fazendo equipamentos para escritório, como máquinas de escrever e clipes para papel. A tarefa simples era executada nas horas vagas a mando do patrão.

Uma instante de distração foi o que bastou. Benedito despencou de uma altura de seis metros. Daquele dia, só se lembra da chegada do corpo de bombeiros. Saiu de maca para o hospital. Ali ficaria internado por 19 dias aguardando uma operação. Após a cirurgia veio à confirmação dos seus temores. A coluna foi afetada. Bene, como é chamado pelos amigos, estava paraplégico.

O medo

Ao relembrar os longos dias que passou no hospital, as lágrimas contidas guardam no coração o medo da perda, não dos movimentos, mas de um grande amor. Qual seria a reação da namorada? Na época ela morava em Cambuí. No primeiro momento ficou chocada com a notícia. Mas para a surpresa, e alegria de Bene, este seria o primeiro dos grandes desafios enfrentados em uma relação que já dura 16 anos. “Ela não saiu de perto de mim no hospital”.

O apoio foi fundamental. Benedito encontrou forças. Aos poucos deixou de lado o sentimento de revolta e frustração. Sentado em sua cadeira de rodas no canto direito da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Cambuí, chama atenção pela serenidade. Voz suave. No semblante a tranqüilidade de quem aprendeu com a vida a valorizar as coisas simples.

No ano passado recebeu outra notícia trágica. O agravamento do diabetes provocou o surgimento de feridas nas duas pernas. O procedimento, que limitaria ainda mais, a autonomia de Seu Benedito foi feito no dia 9 de junho. “A perna esquerda ficou inteirinha preta e o médico disse que ia ser preciso amputá-la”. Em março o mesmo problema afetou a outra perna.Com dois membros amputados, e dependente, de outras pessoas para empurrar a cadeira de rodas, os passeios se tornaram raros.

Bene passa os dias deitado em uma cama. Quando indagado sobre as atividades que sente mais falta. A resposta é simples. Nada, apenas colocar um pé na frente do outro, “tenho saudade de caminhar”. O sofrimento se tornou aprendizado. E das dores nasceram grandes alegrias. A campanha que se encerra com a realização do desafio do bem vai possibilitar a compra de uma cadeira de rodas.

Mais que isso, uma nova lição: a descoberta do valor da amizade e de amigos que teimam em se esconder. Meio sem jeito, ensaia um obrigado. Palavras simples que para ele tem grande significado, “eu fico feliz porque tem gente que nem conhece que está ajudando. A gente só tem a agradecer".

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