segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Em Cambuí, alfaiate ainda resiste à modernidade


Dráuzio de Almeida aprendeu o ofício aos 12 anos

Iara Siqueira

Com a correria do dia a dia e a facilidade de comprar tudo pronto, quase não se vê falar mais na figura do alfaiate, que é o profissional que cria peças sob medida e a gosto do freguês. As peças são variadas entre elas: terno, paletó, calça, colete entre outras, destinada ao universo masculino. Em Cambuí ainda se encontra a última alfaiataria da cidade “Alfaiataria Almeida”, conhecida entre os clientes e amigos como a alfaiataria do seu Dráuzio.

O ambiente é simples e aconchegante, máquina de costura, tesoura para cortar o terno depois de riscado, régua para medir as peças, giz, para riscar o pano, linhas, ferro de passar roupa, panos, ternos de várias cores pendurados, além de um espelho que é para o cliente apreciar o resultado final da mercadoria. Dráuzio de Almeida, 85 anos, cabelos brancos que trazem as marcas do tempo, voz baixa e pausada, porém sempre sorridente e bem disposto, ele já não faz tantos ternos como antes, mesmo assim se pode ouvir o barulho da máquina de costura, a tesoura grande que seu Dráuzio usa a mais de 30 anos chama atenção, pois continua bem amolada para cortar o pano nas mãos habilidosas do alfaiate, segundo ele “a tesoura tem que ser boa, porque se não ela masca e não corta”.

O que não falta para Dráuzio é serviço , seja no reparo de calça , barra, ajuste de zíper, calça jeans e prega de botões aqui e acolá, ele está sempre trabalhando. A idade da clientela varia, de 20 a 90 anos, e vem gente até de cidades vizinhas como Bom Repouso, Senador Amaral, Consolação, Córrego do Bom Jesus e Camanducaia. “É um orgulho que eu tenho o pessoal trazer o serviço pra eu fazer, se eu tivesse isolado sem serviço, seria ruim”, conta.

Os pedidos frequentes são para consertar roupas para ir a festas, casamentos e bailes. Um terno demora em média 15 dias para ficar pronto, o cliente trás o pano e o feitio e aviamento é por conta do alfaiate, a peça custa em média 150 reais, calça e paletó. “Quando Cambuí era pequeno o povo fazia muito terno, hoje que é grande faz pouco, já compra o terno pronto e traz só pra consertar. Mesmo assim, sou bastante procurado, tem gente que vem aqui há mais de 50 anos,” explica.

O alfaiate é aposentado, e se sustenta com o dinheiro que ganha trabalhando como no ofício, “uso a aposentadoria quando há necessidade”. Dráuzio fala orgulhoso que conseguiu estudar os três filhos com o dinheiro que ganhou “na tesoura e na máquina”. De sua família ninguém aprendeu o ofício, pois seus irmãos já sabiam, e seu filho saiu com 12 anos para estudar fora. “Tive cinco aprendizes, mas nenhum continuou a exercer a profissão depois”.

Segundo o alfaiate, o serviço é puxado não é fácil , precisa gostar do que faz ,dá trabalho pra fazer um paletó, por ser um serviço artesanal, demora para ser feito e não pode cobrar muito caro, “mesmo assim a profissão para mim deu certo”, comenta. O ofício lhe foi ensinado ainda pequeno com apenas 12 anos, pelo pai e desde lá não parou mais, “primeiro aprendi a fazer calça e depois paletó, eu estudava, depois da escola aprendia ,dava tempo pra tudo, até pra jogar futebol”, relembra.

Outro prazer que tem é pela música que também foi ensinada por seu pai quando criança. Na parede está à foto que seu Dráuzio mostra com carinho a Corporação Musical de Santa Terezinha, a qual pertenceu e foi regente. A paixão pela música está explicita na alfaiataria, ele guarda “com cuidado” os seus discos de MPB, e os CDs, quando está confeccionando as peças o alfaiate gosta de ouvir música no rádio que fica ao lado da máquina de costura. “Minha cantora preferida se chama Ana Valquíria que canta Rádio Aparecida”.

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