segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Família Vieira de volta ao São Geraldo


Outro problema do bairro é a falta saneamento básico

Márcio Borges

Após três meses de chuvas chega à hora de avaliar os estragos e voltar à rotina. No São Geraldo, bairro visivelmente mais atingido pelas enchentes, as grandes piscinas cheias de água cedem lugar aos buracos e à lama. À volta para casa ainda acarreta outras preocupações, como possíveis doenças que podem ser transmitidas pela água, que se acumula junto ao lixo e atrai transmissores de enfermidades.

A família da senhora Anália do Carmo, 55 anos, vive há nove anos numa casa que já foi atingida pelos temporais no ano 2000. Durante as recentes precipitações, a água chegou a 80 centímetros e alagou os cinco cômodos de sua residência. Durante oito dias, ela, o marido José Vieira, 59 anos e três dos filhos que moram com ela, se alojaram na casa de amigos, no bairro Belo Horizonte.

Ao retornar, depois de fazer manobras para passar pelos obstáculos de lama e sujeira, a casa imunda teve que ser toda lavada. Ela perdeu três guarda-roupas, com isso, as vestimentas agora ficam amontoadas pelas camas. D. Anália afirma que “é difícil conseguir nossas ‘coisinha’ e ainda perde tudo. O que não perde fica desarmado ou quebrado. Para repor é difícil. Num sei quando a gente vai repor isso daí”; Ela ainda lamenta as perdas, pois não trabalha e os filhos que moram com ela estão desempregados. A família vive da aposentadoria do marido.

Além dela, outros vizinhos foram muito atingidos pela água. Como seu filho e sua sobrinha, que também tiveram as casas invadidas pelas águas. Ele perdeu uma estante e ela seu fogão. Anália fala ainda da vizinha aposentada e viúva que ficou com o quintal alastrado de sujeira e lixo.

Nem só a chuva colabora para a situação, ela ressalta outro grave problema: um esgoto a céu aberto que fica próximo das casas, sem o devido tratamento. “A água baixa e o cheiro que vem do esgoto é terrível. Tem que fechar a porta e janela para comer”.

As chuvas freqüentes voltam a assustar os moradores do bairro, que ainda não se restabeleceram por completo da recente enchente. As intempéries do tempo preocupam. “Não consigo dormir à noite. Dá pavor pensar em passar por tudo de novo”, desabafa Anália.

Ela ainda afirma que ajudaria se as ruas fossem pavimentadas ou asfaltadas, e que fosse feito um tratamento no esgoto, um saneamento pelo menos básico. Diversos governantes visitam o local e trazem propostas, promessas de beneficiamento. “São todos. Eles dizem que vão melhorar, mas nada. Nós somos esquecidos”, acrescenta com indignação, e ao mesmo tempo tem confiança na atual administração.

Sei que não é possível impedir a chuva, entretanto há possibilidades de fazer com que a situação seja menos agressiva. Os problemas são diversos e vão além de enchentes, porém as condições econômicas e até sentimentais impedem mudanças. “Mas gosto de morar aqui. Tenho esperanças”, finaliza com um sorriso estampado no rosto cheio de doçura como as balas de coco que enrolava.

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