segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Rotina dos pacientes com insuficiência renal


Em Pouso Alegre, enfermeiras atendem 65 pacientes ao dia, no HCSL

Pedro Henrique Martins

Sábado, de primavera. Às 11h começa mais uma sessão de hemodiálise no Hospital Regional Samuel Libânio, em Pouso Alegre. Logo na chegada, 21 pessoas esperam do lado de fora da Sala Cilene de Paula Costa, onde acontecem as sessões de hemodiálise. Estes pacientes estão prestes a iniciar o tratamento naquele dia nublado. Neste mesmo horário, vinte pessoas terminam o dever do dia. Eles já tinham passado pelo mesmo procedimento que os próximos pacientes iriam enfrentar.

São moradores de diferentes cidades, angustiadas e já familiarizadas com todo o processo de hemodiálise, para alguns deles a única saída é o transplante de rim. A hemodiálise substitui a função dos rins ao filtrar, em uma máquina, o sangue dos pacientes, eliminando as toxinas. O trabalho é doloroso. Mas é impossível ficar sem.

Diversas enfermeiras trabalham a todo vapor. Normalmente cada paciente faz hemodiálise três vezes por semana, durante quatro horas. Somente no Hospital Regional de Pouso Alegre, 65 pessoas passam diariamente por esse processo de limpeza do sangue, já que seus rins não cumprem este papel.

O trabalhador rural de Ipuiuna, José Benedito Pereira Filho, 67, faz hemodiálise há dez anos. Sua história é marcante. Ele sofre de insuficiência renal e não acredita que um dia será possível fazer o transplante de rim. A idade é seu maior obstáculo. “Não tenho mais esperança, a hemodiálise é o que me resta, o que vier daqui para frente é lucro”, afirma. Casado e pai de oito filhos, seu José já tentou fazer o transplante três vezes, mas não obteve sucesso. Um problema de coração dificultou a cirurgia. Sem esperanças de cura definitiva, José diz não ter medo da morte. “Tenho medo apenas de ficar sofrendo, mais de morrer não”, conclui.

Visando entreter e distrair os pacientes, uma dupla de músicos sertanejos alegrou por algumas horas aquela tarde de sábado. Clodoaldo Antônio da Costa e Cirineu Matias conhecido por Ney Viola fizeram uma apresentação para os pacientes.

Atividades como essas acontecem uma vez por mês. O próprio Clodoaldo, transplantado renal há quatro anos, que organiza esses encontros musicais. “Eu fiz hemodiálise quase dois anos, sei como é difícil enfrentar essa rotina, é por esse motivo que trago músicos e colegas para me ajudar neste trabalho”, finaliza.

Para os pacientes, as próximas horas seriam mais fáceis de suportar, pois as músicas faziam um retrospecto de suas lembranças. Ao som de “Chico Mineiro”, as pessoas se emocionavam e tentavam esquecer por um instante aquele transtorno que se tornou a hemodiálise .

Como é caso de Nádia Andréia de Oliveira Silva, 38, há quatro anos realiza a hemodiálise em Pouso Alegre. Lágrimas escorriam pela sua face, lembranças da infância a atordoavam. “Essas canções me faz [sic.] lembrar meu pai, minha infância, minha família, por isso que me emociono. Divorciada e mãe de dois filhos, Nádia torce por um transplante, pois seus pais não podem ser seus doadores. Sua mãe é diabética e seu pai hipertenso. “O que eu mais quero nessa vida é um transplante, para que eu possa ficar livre dessa máquina e retomar minha vida normal”, conclui.

Para alguns pacientes, é do cateter localizado do lado esquerdo do pescoço que o sangue passa pelo processo de filtragem. Para prolongar a vida é necessário se submeter à máquina de hemodiálise. Em Pouso Alegre, os equipamentos são de última geração. “Tem máquina que parece um avião”, diz a enfermeira supervisora, Ana Maria de Lorena.

Nessas horas não importa a classe social, somente nessa sessão, jornalista, advogado, aposentado, empregada doméstica, gente de toda classe em busca de um único objetivo, a cura da insuficiência renal.

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