segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Tapetes no asilo


Em Cambuí, Maria de Jesus Rosário confecciona as peças artesanais

Pedro Henrique Martins

Era pouco mais de duas horas da tarde, quando a senhora Maria de Jesus Rosário, de 50 anos me recebeu em seu quarto na Instituição Geriátrica Padre Antônio Pascoal em Cambuí. O local com no máximo seis metros quadrados, tamanho suficiente para uma cama de solteiro, um guarda roupa de três portas e uma mesinha de costura. Da janela tem-se uma visão ampla do quintal florido da instituição, Rosário como prefere ser chamada e como é conhecida gosta de fazer tapetes artesanais. As peças tecidas com carinho fazem sucesso dentro e fora do asilo. Ela leva cerca de uma semana para deixar um tapete pronto e os preços variam entre R$5 a R$10, depende do tamanho.

Os tapetes são feitos com retalhos, restos de tecidos que ela ganha das pessoas que vão visitá-la e das amigas que conquistou em 10 anos de asilo. Para a confecção das peças ela utiliza a técnica do amarradinho. Os tecidos usados são malha, lycra, elanca ou suplex, pois a sua elasticidade facilita o trabalho. Este foi o caminho que com Dona Rosário encontrou para se distrair dentro da instituição onde mora. O artesanato é um companheiro, com quem ela compartilha alegrias e tristezas.

Com meio século de vida, e com uma aparência que demonstra que os dias vividos até ali não foram fáceis, Rosário revela a saudade da infância e dos tempos que morava no bairro rural Grotinha, que pertence ao município de Estiva. As características rurais estão guardadas na sua memória.

Ela afirma que a infância foi boa, “guardo algumas recordações, o que mais tenho sentimento é de não poder andar. Rosário sofre de um problema que acompanha desde seu nascimento. “Eu só ando com as pontas dos pés e muito pouco”, diz com a voz trêmula.

“Primeiro morreu meu pai, depois minha mãe, não lembro com exatidão quando isso aconteceu, mas recordo que já era moça, e que mesmo não sendo a mais velha já cuidava dos meus irmãos e hoje nenhum deles faz isso por mim”. Mesmo sofrendo com a falta da família, e com a morte de seus pais, consegue valorizar a vida, distrair a cabeça e pensar que amanhã tudo pode ser diferente e, sempre é possível ‘tentar’ dar a volta por cima. Com um sorriso no rosto ela tem orgulho dos laços de amizade que criou durante os 10 últimos anos e ressalta orgulhosa que combina com todos. “Não brigo com ninguém e gosto de todos aqui”.

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