terça-feira, 1 de junho de 2010

Atleta cidadão



Neuber Fischer

Em nove anos de história, a equipe de natação de Ouro Fino já conquistou mais de duas mil medalhas, as últimas vieram depois do excelente resultado obtido no campeonato regional de natação, que engloba o Sul de Minas e Leste Paulista, promovido pela Associação Regional de Natação (ARN), em Atibaia, onde a equipe ganhou 52 medalhas, 26 de ouro, 17 de prata e 9 de bronze. O segredo para o sucesso, uma série de fatores, entre eles, a dedicação de Glauco Pereira de Assis, professor de educação física.

Ele é visto pelos alunos como um professor enérgico, disciplinador, que exige o cumprimento de metas, horários e responsabilidades. Aparentemente tímido e nervoso durante a entrevista, não parava de balançar uma chave e tirar e por os óculos. Glauco Assis é um ourofinense, amante do esporte “Eu sempre, desde menino pratiquei futebol, corrida e foi durante os anos de estudo no seminário que eu me interessei pela atividade física” lembra. Terceiro filho mais velho de uma família de oito irmãos, seus pais Geraldo de Assis e Lourdes Pereira de Assis, religiosos, sempre lhe ensinaram a dividir, por isso, aprendeu cedo a ter disciplina e senso de coletividade.

Formado em educação física pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC) em 1979, desde então não parou de ensinar crianças e jovens a praticarem esportes. Ex-professor de escola pública, Glauco abandonou os dois cargos que tinha devido a falta de incentivo do governo “O professor não é respeitado pelo poder público, quem atua em escolas do estado ou município faz por amor” lamenta. Depois de deixar o ensino público, passou a dar aulas particulares de natação nos clubes de Ouro Fino, porém também não era fácil, “por nossa região ser de clima frio só podíamos treinar no verão, então ficávamos parados metade do ano” relembra.

Em 2001, Glauco inaugurou sua própria academia e com muito esforço, dedicação, palavra esta que é dita com freqüência pelo professor, ele vem obtendo pelo trabalho realizado com seus cerca de 130 alunos, destaque e reconhecimento em todas as competições nas quais participa.

“Na academia, nos atendemos crianças, jovens, adultos e idosos, fazemos desde a iniciação, aperfeiçoamento, competição a treinamentos fisioterápicos, como hidroginástica” conta com satisfação. Aparentemente muito ocupado e requisitado, entre uma resposta e outra o entrevistado atendia ao telefone ou a alguém que o chamava, mas sempre atencioso, respondia a tudo nos mínimos detalhes.

Quatro anos mais tarde veio um dos melhores resultados já obtidos pela equipe, orgulhoso Glauco conta e me leva para assistir um filme em homenagem aos atletas, que seu ex-aluno Luiz Felipe Lima do Couto, 17 anos, natural de Inconfidentes e que hoje treina em um clube de São José dos Campos, conquistou no Troféu Gustavo Borges a medalha de prata e em 2009 Vitor de Melo Baganha, então com seis anos, levou a medalha de bronze, na mesma competição. E as conquistas não param por ai, hoje, sua academia melhor estruturada com apoio de nutricionista, psicólogo, médicos e professores de educação física qualificados e comprometidos com os alunos, a equipe de Ouro Fino, a cada competição alcança degraus mais altos.

O apoio dos pais dos alunos é essencial para que o sucesso chegue “Estamos com um grupo estruturado, porque se você só treinar, mas não ver o lado físico e psicológico dos atletas e o incentivo dos pais indo aos treinos e competições fica difícil atingir as metas” acrescenta.

Os alunos da equipe treinam de segunda a sexta-feira, em uma piscina aquecida e coberta, durante uma hora por dia. Quanto a alimentação, o professor afirma que é difícil controlar as crianças, mas se orienta, tanto os atletas quanto aos pais, a fazer uma nutrição balanceada cinco vezes por dia, com frutas, verduras e legumes, e evitar doces, frituras e gordura.

Glauco enfatiza por diversas vezes, querendo deixar claro, que sua academia não foca somente resultados em competições, medalhas ou troféus, para ele o mais importante é competir “Quando eu vejo que um aluno consegue superar a barreira de cair e atravessar uma piscina, nadando com estilo, independente do resultado final, é muito gratificante, passa um filme na cabeça de quando ele começou e veio galgando nas categorias até chegar a competir” detalha visivelmente orgulhoso e emocionado. “Não tem preço o trabalho que eu faço com as crianças”.

Para ser um bom atleta, é preciso ter o biótipo físico adequado, mas o mais importante é a determinação, a dedicação, a disciplina, a atitude, a responsabilidade, ter garra. Essas palavras são um lema para o professor, que afirma que o dom para a natação existe, mas nem sempre o atleta que tem o dom se destaca, porque só levar jeito não basta “Muitas vezes a criança não tem o perfil de um nadador, mas é dedicado, tem foco e se torna um bom atleta, agora se a criança nasceu para nadar e ainda for disciplinado, nós o lapidamos e ele se torna excelente”.

A equipe de Ouro Fino vai disputar no próximo dia 16 de maio, sábado, em Vinhedo, São Paulo. Com 23 nadadores de sete a 19 anos, que estão treinando e se preparando para atingir o objetivo. O treinador busca no mínino 48 medalhas.

Durante as competições da equipe, teve a oportunidade de conhecer grandes nomes da natação brasileira como Gustavo Borges e Fabíola Molina, com a nadadora, sua equipe participou de uma clínica de natação.

Para o professor, o maior nadador da história é sem dúvida Michael Phelps, mas ele enfatiza que outros também merecem ser lembrado, Alexander Popov, Mark Pitz, e os brasileiros, Xuxa e Ricardo Prado, além da pioneira na natação feminina Maria Lenk.

Quando o assunto é Olimpíada no Brasil em 2016, faz cara de preocupado, “O País não investe na educação, menos ainda no esporte, as estruturas são precárias, os profissionais não tem incentivo, a base é desprezada”. A solução seria além de investir no esporte na escola, trazer técnicos, os melhores de fora, construir centros de treinamento, onde o atleta treine, estude, durma, se alimente, ai sim o Brasil seria considerado de ponta.

Apesar de toda a dificuldade do esporte no Brasil, Glauco diz que em nosso país quem investe na natação é o setor privado, os clubes, as federações e até as famílias, por isso alguns atletas como Cesar Cielo, alcançam excelentes resultados, mas eles pouco dependem do setor público, que só aparece quando o atleta já despontou para o mundo.

O treinador vê com bons olhos o uso da tecnologia na natação, mas tem restrições “Eu não concordava com o uso dos maiôs, nem todo mundo podia ter, e isso era injusto, mas agora já foi banido, ainda bem”. Mas o avanço da medicina, da genética, da biomecânica que estuda o movimento dos atletas, da técnica e mesmo a melhoria das piscinas só contribui positivamente para o esporte. Importante também é ser honesto e respeitar o adversário, não usar doping, não queimar a largada, respeitar as regras, isso faz de um atleta um exemplo de cidadão, e nós queremos e formamos não só nadadores, mas seres humanos e cidadãos conscientes.

No final Glauco enfatiza a mensagem: “Qualquer esporte é importante na vida da criança, do jovem, mas é necessário que os pais saibam quem é o profissional, com quem e onde estão deixando seus filhos, dar todo o apoio, incentivo, para a formação não só do atleta, mas do homem, da mulher, porque com dedicação de todas as partes, os resultados aparecem em competições com medalhas, na escola com boas notas, em casa com bom comportamento, na sociedade com atitudes dignas. E o poder público e a iniciativa privada juntos, podem fazer do esporte uma revolução social no Brasil.

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