Amaury Vieira Fernandes, coordenador do Laboratório Canto Coral |
Elaine Romão - Itajubá
Com os cabelos brancos e
um sorriso no rosto Amaury Vieira Fernandes trabalha em sua sala em uma
universidade de Itajubá. O simpático senhor com ar de avô e jeito de professor
é o regente, maestro e coordenador do Laboratório Canto Coral da cidade, que
este ano comemora 25 anos.
Dedicação, persistência e
muita música fizeram com que o evento idealizado nos meados dos anos 80 pela Funarte
(Fundação Nacional de Arte) escolhesse Itajubá e outras duas cidades
brasileiras para o trabalho. Os anos passaram a ditadura caiu, e na era Collor a
Funarte também.
Sem incentivo financeiro o
maestro decidiu dirigir e assumir o projeto “a semente tinha germinado”. Hoje a
cidade é considerada a capital mineira do canto coral.
Acordes históricos
Com o fim da era Vargas o
canto orfeônico implantado nas escolas brasileiras através de Heitor
Villa-Lobos sucumbiu. A contemporaneidade exigia um canto coral que pudesse
transpor os muros das escolas e ganhar comunidades, empresas,
igrejas e tantos outros grupos organizados. Partiu-se então para a
identificação de regiões onde havia potencial para esta demanda.
A Funarte resolveu
dinamizar o canto coral do interior brasileiro. Foi então oferecida a algumas
cidades uma oficina coral com profissionais competentes, experientes e com
vontade de transformar a cultura musical daquela região do país. Itajubá foi
escolhida para sediar o “Laboratório Canto Coral”.
Em 1982 chega ao município um senhor calvo, com uns
poucos cabelos brancos. Era o enviado da instituição, para realizar a oficina
coral com jovens itajubenses e das cidades convidadas para assistir as aulas do
Maestro Oscar Zander. “Ninguém sabia direito o que aconteceria. A princípio,
com certo ceticismo, criou-se uma grande interrogação, o que seria o
laboratório coral. Aquele velhinho daria conta da energia de uma juventude
sedenta de transformações?”.
Após uma semana veio à resposta, uma apresentação de 45
cantores corais entre eles Amaury, na Igreja Matriz N. S. da Soledade, sob a
regência de um excepcional maestro, ávido de mudanças no cenário coral do
Brasil. “Aquele velhinho que vi no primeiro dia, transformou-se num pedagogo de
alta estirpe”.
Um maestro conseguiu, através de tempo integral (manhã,
tarde e noite) montar um programa coral e o apresentou ao público em sete dias.
No ano seguinte, Zander participou do laboratório.
”Simpático, tomando cerveja e comendo peixe no Bar do Pai, se dispunha a falar
de música após 12 horas de trabalho”. Um ano depois o mestre morreu.
De órfão a genitor
Com a morte de Zander e o fim do apoio da Funarte, Amaury
juntamente com o maestro José Rezende Vilela de Brasópolis e Osvaldo Raposo
Júnior de Alfenas, decidiu dar continuidade ao projeto.
Todos os anos os três se encontravam com o Brasil Coral através
do Painel Nacional de Regência Coral, encontro que mudava de estado anualmente.
“Ali buscávamos mais informações e informávamos os maestros sobre a ideia que
havia vingado em Itajubá”.
Nestas visitas o regente conheceu Samuel Kerr, um dos
maiores incentivadores na continuidade do Laboratório Coral. Em seguida,
Reynaldo Puebla, grande especialista musical do país, Nelson Mathias e tantos
outros profissionais que passaram pelo evento.
Regendo vidas
Itajubá é uma das referências nacionais em Canto Coral.
Na cidade, existem cerca de 50 corais em atividade, mantidos por instituições
de ensino, associações, empresas e projetos culturais. O Laboratório Coral
contribui para manter essa tradição artística ativa.
Anualmente recebe cerca de 100 coralistas vindos de todo
Brasil. Os participantes têm uma semana de atividades relacionadas ao canto,
tais como, técnica vocal, expressão cênica e ensaios.
Nestes 25 anos o encontro contribuiu para a formação de
dezenas de pessoas que atuam na modalidade. “Estou comcabelos brancos e a
sensação de missão cumprida”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário