segunda-feira, 4 de junho de 2012

Bodas do canto

Amaury Vieira Fernandes, coordenador do Laboratório Canto Coral
Elaine Romão - Itajubá

Com os cabelos brancos e um sorriso no rosto Amaury Vieira Fernandes trabalha em sua sala em uma universidade de Itajubá. O simpático senhor com ar de avô e jeito de professor é o regente, maestro e coordenador do Laboratório Canto Coral da cidade, que este ano comemora 25 anos.

Dedicação, persistência e muita música fizeram com que o evento idealizado nos meados dos anos 80 pela Funarte (Fundação Nacional de Arte) escolhesse Itajubá e outras duas cidades brasileiras para o trabalho. Os anos passaram a ditadura caiu, e na era Collor a Funarte também.

Sem incentivo financeiro o maestro decidiu dirigir e assumir o projeto “a semente tinha germinado”. Hoje a cidade é considerada a capital mineira do canto coral.

Acordes históricos

Com o fim da era Vargas o canto orfeônico implantado nas escolas brasileiras através de Heitor Villa-Lobos sucumbiu. A contemporaneidade exigia um canto coral que pudesse transpor  os muros das escolas e ganhar  comunidades, empresas, igrejas e tantos outros grupos organizados. Partiu-se então para a identificação de regiões onde havia potencial para esta demanda.

A Funarte resolveu dinamizar o canto coral do interior brasileiro. Foi então oferecida a algumas cidades uma oficina coral com profissionais competentes, experientes e com vontade de transformar a cultura musical daquela região do país. Itajubá foi escolhida para sediar o “Laboratório Canto Coral”.

Em 1982 chega ao município um senhor calvo, com uns poucos cabelos brancos. Era o enviado da instituição, para realizar a oficina coral com jovens itajubenses e das cidades convidadas para assistir as aulas do Maestro Oscar Zander. “Ninguém sabia direito o que aconteceria. A princípio, com certo ceticismo, criou-se uma grande interrogação, o que seria o laboratório coral. Aquele velhinho daria conta da energia de uma juventude sedenta de transformações?”.

Após uma semana veio à resposta, uma apresentação de 45 cantores corais entre eles Amaury, na Igreja Matriz N. S. da Soledade, sob a regência de um excepcional maestro, ávido de mudanças no cenário coral do Brasil. “Aquele velhinho que vi no primeiro dia, transformou-se num pedagogo de alta estirpe”.

Um maestro conseguiu, através de tempo integral (manhã, tarde e noite) montar um programa coral e o apresentou ao público em sete dias.

No ano seguinte, Zander participou do laboratório. ”Simpático, tomando cerveja e comendo peixe no Bar do Pai, se dispunha a falar de música após 12 horas de trabalho”. Um ano depois o mestre morreu.

De órfão a genitor

Com a morte de Zander e o fim do apoio da Funarte, Amaury juntamente com o maestro José Rezende Vilela de Brasópolis e Osvaldo Raposo Júnior de Alfenas, decidiu dar continuidade ao projeto.

Todos os anos os três se encontravam com o Brasil Coral através do Painel Nacional de Regência Coral, encontro que mudava de estado anualmente. “Ali buscávamos mais informações e informávamos os maestros sobre a ideia que havia vingado em Itajubá”.

Nestas visitas o regente conheceu Samuel Kerr, um dos maiores incentivadores na continuidade do Laboratório Coral. Em seguida, Reynaldo Puebla, grande especialista musical do país, Nelson Mathias e tantos outros profissionais que passaram pelo evento.

Regendo vidas

Itajubá é uma das referências nacionais em Canto Coral. Na cidade, existem cerca de 50 corais em atividade, mantidos por instituições de ensino, associações, empresas e projetos culturais. O Laboratório Coral contribui para manter essa tradição artística ativa.

Anualmente recebe cerca de 100 coralistas vindos de todo Brasil. Os participantes têm uma semana de atividades relacionadas ao canto, tais como, técnica vocal, expressão cênica e ensaios.

Nestes 25 anos o encontro contribuiu para a formação de dezenas de pessoas que atuam na modalidade. “Estou comcabelos brancos e a sensação de missão cumprida”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário