domingo, 10 de junho de 2012

Traços rurais

O mineiro, José Raimundo pretende levar a arte naif a São Paulo
Wilker Cardoso - Pouso Alegre

Uma grande parede pintada, uma escada toda desenhada de preto com pontos a perder de vista, quadros e esculturas de tons primários, a vida rural esboçada, na entrada da sala, do artista plástico José Raimundo. O ar de atualidade distante da temática ruralista de suas obras faz o visitante perceber de onde vem a inspiração do artista.

Em Poços de Caldas no Instituto Moreira Sales, sua última exposição contou com 40 quadros, a maior mostra em onze anos de carreira. A entidade é referência no meio artístico nacional explicou o curador do artista Ferrão.

A conversa, regada a café no ateliê com cheiro de tinta fresca, José Raimundo com semblante tranqüilo, conta que na hora de compor suas obras, pensa na infância e juventude. A influência do contexto que viveu é bem notável nos quadros, “eu pego uma tela branca e vou pensando naquela época que eu vivia lá, os bichos, cercado, árvore e lago. Então eu já vou definindo a tela, e no pensamento, lá no tempo que eu vivia na roça”.

Raimundo faz parte dos artistas naif, que define aqueles que não têm formação acadêmica em arte. No entanto a autenticidade é uma característica das obras dessa corrente artística. Usa de tinta acrílica em tela de tamanhos de 40 x 50, 50 x 70 e até 1x1 e de 2 x 1,5, também pinta em pedras, esculturas de animais e banquinhos de madeira.

O inicio da carreira começou logo depois que José Raimundo foi trabalhar como jardineiro na casa do artista Ferrão, hoje seu curador. No vai e vem das exposições e na observação do desenvolvimento das obras, o jardineiro percebeu o cotidiano de um artista. “O artista é além da obra, é o dia a dia as coisas que ele faz para construir a obra”.

Foi nesse tempo que Ferrão pediu ao amigo e jardineiro para cuidar da casa enquanto fazia uma viagem, como Zé já desenhava e esboçava algumas figuras Ferrão preparou uma surpresa, deixou tela, pincel e tinta com uma carta dizendo “tudo que o senhor desenhou até agora foi isso aqui, então coloca na tela”.

O quadro ficou tão bom que Ferrão decidiu mandar para a bienal naif de Piracicaba, a obra foi selecionada pelos críticos de arte e diretores de museus “de lá pra cá eu decidi não parar” conta Raimundo.

Críticos de arte levaram a obra do artista para outros países como Israel e Japão, “vieram artistas japoneses expor aqui no ateliê Mineiro e conheceram a obra do José Raimundo daí resolveram levar pra lá” comenta Ferrão.

A repercussão da obra se baseia no valor financeiro dos quadros do artista, as primeiras pinturas eram cotadas entre R$200,00 e R$400,00 “hoje um quadro dele de 40 x 50 dá R$1400,00 e isso já é um reconhecimento do próprio mercado” comenta o curador.

Agora a intenção é expor em alguma galeria em São Paulo, mas para isso acontecer, um quadro dele precisa passar por um leilão, com a disputa entre colecionadores vai taxar um valor e divulgar a obra, explica Ferrão. Em outubro Zé Raimundo pretende expor no Ateliê Mineiro, próximo ao aniversário de Pouso Alegre, que terá uma coletiva naif.

2 comentários:

  1. Grande artista, merece muito reconhecimento, suas obras resgatam a identidade histórica do mineiro, e é uma beleza, sô!

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