terça-feira, 1 de maio de 2012

Estética primitiva

Fabiano Mogi, tatuador, adepto ao uso de alargadores
Elen de Souza - Pouso Alegre

Os índios, em especial da tribo Kayapó, acreditam que a capacidade de ouvir e compreender melhor as palavras possa ser aumentada ao se fazer um furo nas orelhas para a utilização de alargadores. Um ritual que inicia ainda com os bebês, e á medida que crescem muda-se o tamanho do alargador até alcançar cerca de dois a três centímetros de diâmetro. Porém esse ritual indígena ultrapassou as fronteiras das tribos e invadiu os centros urbanos, tornando o alargador de orelhas um fascínio entre os jovens.

Fabiano Mogi trabalha como tatuador e body piercing há 13 anos, e relata que há algum tempo essa era uma prática muito vista em grandes cidades, mas que a cerca de dois anos houve um aumento considerável de adeptos do alargador também em cidades do interior, como Pouso Alegre. “Essa é uma moda que não tem idade, não me lembro quantos anos tinha a pessoa mais velha que já coloquei alargador, mas o mais jovem tinha 10 anos”, comenta Mogi.

Há dois anos o músico Charles de Carvalho decidiu aderir a esta moda, e para ele a emoção veio em dose dupla: colocou na mesma semana, alargadores nas duas orelhas. “Assim que vi um alargador me identifiquei” explica o jovem. Atualmente o diâmetro das perfurações nas orelhas do músico, corresponde ao tamanho de uma tampa de uma garrafa pet e ele ainda não está satisfeito, ainda pretendo aumentar mais, uso o tamanho 25 e pretendo chegar ao 30”, ressalta.

Já para o professor de história, Rogério Leite, o uso do alargador era um forte desejo, mas o medo de arrepender-se o impedia de colocá-lo. Em tom de humor ele relata a difícil decisão “é até meio esquisito, pois eu tenho dois piercings nos mamilos, um na língua e algumas tatuagens, mas quando pensava em alargar a orelha eu “amarelava”.

De acordo com Leite, o receio era de sofrer repressão devido a carreira profissional “estava me formando para ser professor, e na minha opinião, a sociedade ainda é muito conservadora, tentam camuflar os preconceitos, mas nem sempre conseguem” afirma ele. Pois as tatuagens e piercings, segundo o jovem é necessário apenas uma camiseta para encobri-las, o que facilita no dia-a-dia em sala de aula.

Mesmo cercado de dúvidas, o desejo falou mais alto e há pouco mais de seis meses Leite não resistiu e se aventurou mais uma vez pelo mundo das perfurações e colocou o tão esperado alargador “ainda tá bem pequeno, vou dar um passo de cada vez” comenta o jovem. A moda inspirada nos primitivos aos poucos transcende também as barreiras do preconceito cativando cada vez mais adeptos e admiradores. 

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